"Oi, João! Você pode socorrer a Maria? A câmera parou de funcionar no meio do casamento". Nesse instante percebi que a carreira de uma fotógrafa e a felicidade de uma noiva estavam ameaçadas. E agora, o que fazer? Senta, que lá vem história!
Por João Alberto da Silva - Fotógrafo
Era domingo de manhã. Lá estava eu, camiseta, bermuda e chinelo, vassoura e rodo na mão. Chão ensaboado, faxina rolando solta, eu todo suado, exalando aquele cheirinho desagradável como gambá. O cabelo? Bem, parecia ter sido lavado com xampu de laranja: era puro bagaço.
Quando ia imaginar que, num domingo pela manhã, dia de folga, no auge da faxina, seria contatado com uma notícia tão bombástica? Não! Eu não estava preparado para isso.
Gelei a espinha e minhas pernas tremeram. Perdi completamente o rumo do que estava fazendo. Esqueci até onde tinha colocado a vassoura e qual era a parte havia parado. Afinal, esse é um tipo de situação que não desejo ver ninguém passar.
Mas chega de conversa, e vamos ao que interessa. Em que parte parei mesmo? Ah, sim. Lembrei! Luz, câmera, ação!!!
A Notificação Inesperada.
Era um daqueles domingos que começam tarde. Afinal, o sábado tinha sido intenso. Cheguei em casa às duas da manhã, cansado, mas feliz por ter o dia livre.
No auge do rodo e do sabão, só pensava em curtir preguiça pelo resto do dia. Mas o som da notificação do celular, semelhante aquela visita inesperada (e indesejada), pôs fim aos meus planos. A 5ª série que habita em mim entrou em ação: "quem me incomoda?".
Mas o negócio era mais sério do que podia imaginar. Era um pedido de socorro de uma colega de profissão. No meio do casamento, o equipamento para de funcionar. E o pedido era mais que urgente: se poderia levar o meu equipamento para ela continuar, inicialmente, só a câmera. Apesar da aparência cômica (eu parecia ter vindo da guerra), dei um jeito de levar.
Cenas de Desespero
A Igreja em questão fica a alguns poucos quilômetros de casa. Ao chegar, deparo-me com a Maria, uma profissional em prantos, segurando a câmera como se fosse um tesouro quebrado. O desespero estampado no rosto era de cortar o coração. Para piorar, não era a câmera, mas o cartão. Xiii, perdi a viagem. Tinha levado somente a câmera (a que uso como equipamento de backup para os eventos).
Voltei para casa em tempo recorde, abri a mochila, ainda organizada do trabalho anterior, e em segundos acoplei a lente na câmera, formatei o cartão (tenho vários, então não foi difícil conseguir um), conectei o flash, e saí no tiro.
Ao chegar na frente da igreja, imagine a cena: eu, de chinelo e suado, parecendo ter saído de uma guerra. Até um morador de rua estaria mais apresentável.
Um resgate Improvável
Uma senhora que pertence à equipe da igreja saiu para me receber. Entreguei o equipamento na mão dela e saí correndo sem olhar para trás. Afinal, vai que ela estivesse rindo da minha aparência. Nunca se sabe! Se estivesse, pelo menos eu não veria. Afinal, quem não vê, também não sente, não é mesmo?
Ainda não tive a oportunidade de conversar com a Maria para saber como tudo terminou, mas imagino que ela ainda terá alguns cacos para juntar. Mesmo assim, fico feliz por ter feito parte desse resgate improvável. No fim das contas, a vida é feita desses momentos: de ajudar, de se doar, mesmo que seja de chinelo e com cheiro de gambá. E, no final do dia, são essas pequenas ações que tornam o mundo um lugar melhor.
E, cá entre nós, se um dia eu resolver escrever um livro, essa história com certeza vai estar lá. Quem sabe com o título: "O Fotógrafo de Chinelo: Herói por Acidente?"
